segunda-feira, 6 de junho de 2011

Vermelho ou Encarnado?

Acendi um cigarro. Inspirei a primeira vez e veio tudo à cabeça. Aquele encarnado forte que me rodeava das mesas e dos cafés fez-me sentir enjoada. Encarnado escalarte, sem dúvida; forte e maduro tal como as cerejas que comi hoje ao almoço. Olho em redor e tudo o que vejo à minha volta é da mesma cor: os toldos, os sinais, os carros, as pessoas. Até as pessoas. Até eu tenho a mesma cor vermelha que preenche a cidade. Vermelho de sangue, de dor, de sofrimento. O vermelho que corre no nosso corpo, o vermelho que o Nosso Senhor escorreu ao ser sacrificado. Tenho fé e esperança que um dia o vermelho que me cobre se torne em branco ou em azul, como o céu nos dias de sol.
Talvez sejam só ilusões...talvez seja chegue a ser realidade aquilo que eu observo, pois a minha imaginação é tanta que por vezes não distingo o que vem da minha cabeça e o que não vem. Mas sei o que sinto... sei que sinto o encarnado na minha mente. Sei que ele não me vai deixar tão cedo. Permanecerá cá dentro eternamente.
A minha tristeza, essa sim, é a mais encarnada de todas. Vermelha escura, daquela que dói só de olhar. Escura como a noite cerrada ou um beco esquecido na cidade. É profunda, esquecida pelo tempo apenas pelos outros e permanente para mim. Frequente e por vezes impossível de suportar. E é isto.
Pousei o cigarro no cinzeiro da esplanada encarnada e deixei-o apagar, sozinho, sem pressa. Tudo tida voltado à cor real quando o cigarro se apagou.