quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Desenho do meu próprio rosto

Sentei-me numa cadeira de braços – bem confortável por sinal – e peguei na caneta de tinta permanente. Tinha o bloco A4 à minha frente. Olhei pela janela e chovia como nunca tinha visto nos meus pequenos dezassete anos. À minha esquerda, tinha a mala com as cornucópias que me serviu de inspiração.
Traçei um risco ao comprido, duma ponta da folha à outra. Fiquei cerca de dez minutos a pensar no que iria fazer a seguir. Fechei os olhos e saíram-me três círculos, dois deles com a forma de uns olhos grandes, daqueles que vêm para além do mundo. De seguida, agarrei num lápis de cera e pintei-os, muito ao de leve, com castanho e cor de mel, para dar um ar calmo e sereno. Tornei a pegar na caneta e desenhei um nariz, a partir do outro círculo, tal e qual uma esfinge, bicuda e rígida. Num gesto agitado, corri a folha com traços soltos e sem lógica; de novo com a cera, desta vez encarnada viva, esbocei duas maçãs do rosto. O desenho começava a ganhar forma.
Abri a gaveta e tirei um pincel. Tive medo de estragar o desenho, mas arrisquei, como arrisco sempre. Molhei o pincel no copo de água e demolhei-o no preto. Fiz uns caracóis selvagens, daqueles que balançam à mínima rajada de vento. Observei o desenho e salpiquei, de verde, os cantos da folha: pareciam ideias e pensamentos, confusos e baralhados. Peguei novamente na caneta e fiz as orelhas juntamente com inúmeros brincos, sem pensar em grandes detalhes. Pintei apenas as pérolas que tinha nas orelhas enquanto desenhava, de beje, para não chamar muito a atenção. Agarrei numa caneta de feltro e tracei algumas cornocópias de volta dos caracóis pretos. Agora sim, estava um retrato com alguma cor. Faltava a boca e as sobrancelhas: por cima dos olhos, com grafite, esbocei alguns traços contínuos, não muito compridos, de ambos os lados; em relação à boca tive mais precisão e cuidado. Novamente com o pincel, desenhei uns lábios tão perfeitos que nem pareciam os meus. Pintei-os de vermelho escuro, para parecerem firmes e sedutores.
Finalmente, peguei nos guaches e pintei algumas partes da folha, sem saber bem o que estava a fazer. De início não tinha a intenção de desenhar um rosto tão único como aquele, mas senti que faltava qualquer coisa. Faltava-lhe vida. Tentei imaginar o que poderia fazer para gostar do que tinha feito, mas nada me ocorreu. Foi então que me escorreu uma lágrima, muito lentamente, sem eu dar conta, e caiu exactamente num dos olhos castanhos cor de mel. Foi aí que entendi que o desenho por fim, tinha ganho vida. Só lhe faltavam as minhas lágrimas.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Sonho.

Fui a correr rua abaixo, ia com uma grade de cervejas na mao. cheguei lá, pisei centenas de pessoas e pedi 'com licença' e outras mil. entrei no bar e pus-me ao balcao, com a cabeça às rodas a ver se o via, visto ser fácil avistá-lo, devido à sua altura. percorri dois ou tres e bares, e nada. De repente, olho em frente e lá no fundo, mesmo no fundo, vejo-o apoiado ao balcao, embora fosse demasiado pequeno; obrigava-o a ficar corcunda perante os jovens que o rodeavam. Cheguei-me ao pé dele (vou passar a descrever:), estava com uns ténis da nike, azuis escuros, com umas calças de fato de treino e com o seu casaco que parece de um general. Dei-lhe um abraço e...

quarta-feira, 30 de junho de 2010

E se eu te disser que na Dinamarca não há iguanas?


Digamos que foi precoce da minha parte. Para variar, fiz tudo a correr sem calcular a distancia percorrida. Tropecei, caí e magoei-me, acabando por perder a corrida. Depois percebi tudo: a vida é um jogo. Um jogo em que se perde quase diariamente, mas em que também se ganha. Nas corridas, muito provavelmente, irei perder sempre (nunca fui uma rapariga ligada ao desporto), mas acredita que no xadrez ou nas damas, irei coleccionar troféus, devido ao pensamento. Gostava de ter ganho um, daqueles que ficam na memória para sempre, ao teu lado. Devo ter ficado em último… és demais para mim, calculo. Ou talvez seja eu que não atribuo mais do que dez às minhas pontuações. Como vês, ultrapassas a minha meta… tenho pena. Tenho muita, mesmo muita pena, porque sei que iria aprender muito mais e iria ganhar mais prémios e lições de vida. Mas vão aparecer novas equipas e novos jogadores, e eu, juntamente com o resto do mundo, vou avançar e recuar nas pontuações. Sei que vais estar sempre no topo, nem que seja só eu a reparar, porque sempre foste o capitão de equipa, embora só tivesse percebido isso naquela última competição. Ambos adoramos jogos, embora às vezes não saibamos jogar a serio. É triste, mas é a vida que nos torna jogadores da nossa própria vivência. Não jogues. Vive.
Resposta: Se eu quiser, haverá sempre. Queres?

domingo, 6 de junho de 2010

Retrocedi no tempo.


Daqui a umas semanas (exactamente um mês), vou sair da escola. Sinto-me triste. Sempre desejei, finalmente, ver-me livre de todos os problemas que me rodeavam por estar com aquela gente...mas agora que sei que já não vou rir com os meus verdadeiros amigos, que já não vou almoçar com eles, que já não vou ter os abraços de todos quando choro, passo a sentir-me sozinha. É como se começasse tudo do zero. Nova escola, nova vida, novas pessoas, novos amigos. Tudo vai mudar. Tenho imenso medo, embora saiba que vai ser um desafio à minha altura, aquela adrenalina que eu tanto esperava há séculos! Bom, foi bom enquanto durou…vocês vão ficar sempre no meu coração, e recordarei com um enorme sorriso na cara todos os nossos bons momentos. Posso chorar, claro que sim. Mas vou chorar de felicidade por vou ter conhecido, por ter aproveitado da melhor maneira a vossa amizade. Não chorar porque acabou, vou chorar sim, porque aconteceu Amo-vos. (Pedro Nunes, 17.05.2008)


Agora voltei. Por muito que não quisesse regressar, fui obrigada a fazê-lo. Sei que foi para meu bem, para começar a fazer o que mais gosto, que é escrever. Comecei, mais uma vez, um ano do princípio, em que conheci novas pessoas, umas boas e outras nem por isso, mas não é por isso que pioraram os meus intervalos. Pioraram porque vejo as pessoas que me rodeiam a transformarem-se em seres desprezíveis e ignorantes, que não sabem ser sinceras e capazes da nossa melhor qualidade, que é serem elas próprias. A minha escola agora é feita de protótipos, pessoas que não sabem ter vontade própria nem originalidade. Mas já deixei de dar importância aos aspectos negativos dos jovens de hoje em dia. Estou ali para fazer o meu dever, que é o estudar. Chamem-me o que quiserem, mas o que me interessa neste momento da minha vida é sentir-me concretizada em termos profissionais, é olhar para trás daqui a uns anos e ver que fiz a escolha certa.
Irei passar mais dois anos naquela escola que tanto me trás más recordações, mas sei que vou conseguir aguentar tudo, porque sou forte e tenho objectivos de vida. (touro: capacidade de atingir os objectivos propostos e força de vontade para o que quer fazer.)

Eles criticam-me por ser diferente, eu critico-os por serem todos iguais.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

?

Tenho 17 anos. Sou jovem, inexperiente. Gostava de saber mais sobre a vida. Sei que ela aos poucos e poucos me vai mostrando um pouco mais de si, embora sempre muito meticulosamente. Um dia hei-de olhar para trás e ver tudo o que já vivi e aprendi. Se me perguntassem o que é que eu gostava de mudar no passado, a minha resposta era nada. Nada. Porque se não fossem os erros horríveis que cometi e as estupidezes que fiz, talvez não fosse hoje a rapariga que sou. Era mimada e má pessoa. Não digo que agora sou perfeita, mas sinto-me relativamente bem como sou visto ter a melhor mãe do mundo, que me apoia desde sempre. É a ela que eu recorro quando choro, quando me sinto perdida no meio de uma multidão de gente. (agora nao posso acabar este texto. tenho de ir estudar geografia. até logo.)

Carta de amor, 1964

Meu eterno amor,
São raios de luz verde e azul ao mesmo tempo. Transmitem uma calma indescritível, juntamente com as melhores pestanas do mundo: longas e firmes. Em conjunto com o teu longo cabelo loiro fazem a combinação perfeita. Fica arrepiada ao observar o teu profundo e sincero olhar. Os olhos, relembro-os bem, desde o último dia em que estes se despediram de mim, deslumbrando-me durante toda a tarde, num dia de inverno rigoroso.
Já quase me esqueci do teu verdadeiro tom de pele (para não falar das mãos, que eram grandes e, apesar disso, graciosas). Passaram onze meses e treze dias, salvo erro; quase um ano sem "namorar" esses olhos, essas mãos, esse sorriso e esse cabelo que tanto amo.
Antes de partires, percorria quilómetros, ultrapassava ventos e enfrentava tempestades só para te ver sorrir. Agora, sou obrigada a ficar presa e acorrentada às saudades que me sufocam diariamente.
Já lá vai um ano sem existirem os passeios de barco na nossa lagoa, os momentos românticos, as serenatas em plena madrugada, os ramos de flores que me oferecias todos os dias...relembro bem todos os segundos passados a teu lado. As longas conversas pela noite fora e os domingos em frente à lareira desapareceram. Os momentos de carinho também ficaram para trás.
E tu, meu amor? Onde te encontras? O tempo passa cada vez mais devagar e torna-se, aos poucos e poucos, cada vez mais dificil de se suportar. Cada vez mais me sinto frágil e sozinha, devido à tua ausência. Preciso de voltar a ouvir a tua tornurenta voz e de sentir a tua pele macia.
Os meus olhos já nao aguentam, tomam banho todos os dias, por ti...Anseio a tua chegada desde o minuto a seguir à tua partida, e espero com esperança e saudade que voltes assim que puderes.
Enfim...basta apenas dizer que ambos teremos de aguentar este profundo sofrimento, e que, apesar de não ser nada sem ti, faz-me viver a vontade de voltar a ver-te.
E lembra-te: as saudades não existem por estares longe, mas sim porque já estiveste demasiado perto.
Volta para mim. Amo-te.
Lisboa, 17 de Agosto de 1964

Gripe A(tchim)!

Decidi escrever uma crónica, há uns tempos atrás. Devido à recente existência do meu blogue, talvez já nao faça muito sentido publicar este texto sobre a Gripe A, visto já ter acabado. Mas como provavelmente irá aparecer outra doença dentro de em breve, ficarão com uma pequena ideia do que eu acho destas novas percauções.

Cá estou eu outra vez. Lembrei-me que, esta semana, poderei abordar o tema que mais alarido tem provocado por Portugal inteiro. A nossa "querida" gripe H1N1, que nos veio encher os corações de preocupação, angústia e máximo controle. Considero que toda esta adernalina perante esta doença seja extremamente exagerada. Para além de haver casos em que os doentes tomam um dito benuron e, passado sete dias de cama ficam bons, parece-me também que se trata de uma boa forma de lucro para os nosso adorados farmacêuticos, visto que os hipocondríados (e não só) se andam a prevenir bastante.
Agora, outro ítem: a linha da saúde 24. Resolvi fazer o teste de comprovação sobre esta tal linha considerada uma "ajuda", aberta 24 horas por dia. Então, numa "hora de ponta", marquei o número. Para meu espanto, o atendedor é um gravador que apenas indica os sintomas e os passos essenciais para a prevenção da gripe, e aconselha as pessoas e agirem do seguinte modo: ao mínimo de dores de cabeça ou indisposição, fiquem em casa. Ora, parece-me que, para o caso de uma pessoa ter uma dúvida em que a tal gravação não esclareça, terá de se dirigir a um hospital, logo, terá de sair de casa...resumindo, apercebi-me que a linha da saúde 24 não tem um papel assim tão importante, para além de nem ser estar disponível.
Bom meus caros leitores, penso que depois das minhas palavras, estarei na posição de poder dar um conselho: se tiverem sintomas de gripe, abstanham-se dessas manias e saiam à rua, aproveitar para ir a um bom jardim e ler um bom livro.
Até breve!
30.10.09

Pai.


Ser simples é complicado, mas compensa fazer o caminho até lá. Ensinaste-me o mais importante de tudo: ensinaste-me a olhar, porque só o olhar nao mente. Ao longo da vida aprendemos a olhar, a olhar realmente, não apenas a ver; vêmos a vida com outros olhos e apercebemo-nos que os devemos abrir e ampliar o nosso campo de visão. Olhando assim, conseguimos ver a simplicidade do mar, da lua e das estrelas, passamos a ter a capacidade de respirar e de viver a vida tal e qual como deveríamos.

Ajudaste-me a aproveitar e a viver os momentos que a vida nos proporciona da melhor maneira, e não simplesmente a passar por eles, sem dar por isso. É o essencial para viver a vida e para ela ser vivida da melhor maneira. Por isso, devo agradecer-te por me teres ensinado a viver e por ser uma pessoa melhor, graças aos meus olhos.

Eu costumo dizer que não pedi nada à vida, e a vida deu-me tudo. Obrigada.

Açores.



Estou rodeada por quatro paredes e com um tecto por cima. Oiço jazz e vejo uma figura franzina à minha frente, demasiado perfeita para existir. Por trás dela, estão campos percorridos de beleza e encanto. Todos verdes e férteis, rodeados de gado a pastar aqui e ali. Lugar calmo, definitivamente. Lá ao fundo consegue indentificar-se quatro montes e, por entre eles, centrado a meio, uma grande montanha rodeada de nevoeiro e curiosidade.

As crianças podem correr e brincar à vontade, sem ter medo da violência e dos perigos da cidade. O ar é tão puro que nem se dá conta a inspirar! Há árvores de todos os tipos e feitios: pinheiros, carvalhos, eucaliptos, até palmeiras existem. As flores de mil cores deslizam pelas típicas casas daqui.

A água explora as extremidades da paisagem e as nuvens aproximam-se trazendo com elas tristeza...e água. Água que se vai transformando em pingos gélidos e transparentes, que, ao tocarem a terra, ficam tal e qual as lagoas aqui ao lado. Sinto que os pingos provocam uma barreira entre o ar purificado e a terra virgem.

Apareceu um raio de sol. Consegue-se vê-lo a passar entre as nuvens e a chocar com os campos verdes.

À noite, a paisagem melhora ainda mais. Deitada, olho para o reflexo do quarto; dá para ver a janela e a lua cheia atrás de si, a espreitar por todos os cantos deste maravilhoso sítio. Ela observa-me todas as noites, e, de tempo em tempo, é tapada pelas nuvens escuras da noite, que vão e vêm conforme os dias. Parecia que perdia a fala cada vez que desaparecia...

Pintura pitoresca.


Nosso amor é tinta e tela. Tu? Tu és pincel, és caneta, és lápis de todas as cores, preenches com amor a paisagem romântica que cada vez mais fica perfeita e indescritível

Se eu fosse pintor queria ser o teu artista, gostaria de contigo pintar o maior número de pormenores possíveis, no maior número de telas, no auge do meu maior talento.

Ver-te-ia como um Van Gogh ou como um Picasso, que sempre genealmente completa a sua obra, com dedicação e amor. Compraria uma palete para te dar uso com carinho, para nunca te partir ou estragar. Não irei nuncar apagar os teus bondosos traços que com tanto amor os traçei. Usarei mil cores e texturas, mas tornar o quadro ainda mais original e profundo...as sombras e as prespectivas também irão fazer parte deste panorama artístico, caracterizando cada obra de arte que ambos iremos compor.

(...) Tudo isto porque nosso amor é uma verdadeira Arte.

Stars.


Observam-me de dia e noite. De dia são praticamente invisíveis, fazendo com que todos se esqueçam delas. À noite voltam, iluminando a profunda escuridão e a minha cidade, tornando-a romântica.
São infinitas; embora estando sobrepostas e outras meio escondidas, todas são originais e importantes. São as minhas confidentes! Ajudam-me e apoiam-me dando-me luz, por dentro e por fora, iluminando o caminho da Vida. Sabem a minha vida de cor e salteado, acompanhando-me sempre, onde quer que esteja.
Têm uma companheira lá em cima. Essa raramente a vejo, mas quando isso aconteçe e ela está cheia, deixa-me feliz e torna todo este panorama ainda mais perfeito. A noite torna-se cintilante e astronómica, quando ha aquelas maravilhosas chuva de estrelas, que nos transportam para um Mundo completamente diferente. Quer esteja quarto minguante ou quarto crescente, transmite uma beleza inconfundível e está semrpe perfeita, independentemente da forma, cor, textura ou tamanho.
São os astro com os quais me identifico e que, sem eles, nao viveria.
Lá estão eles outra vez. Olho para a janela e sorrio.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Solidão.

Solidão. O que é isso? Antes, quando vivia sempre a sorrir, sempre feliz e alegre, não sabia o que significado dessa grande palavra. Agora, que me sinto triste, sozinha e estou sempre melancólica, sei o que quer dizer. Solidão é uma palavra tão profunda, tão sombria…acho que não tem fim. Para alguns, talvez seja uma tortura, a solidão. Para a maior parte, penso eu. Mas para mim não. Acho que até posso dizer que criei um Mundo, só meu, na solidão…Um mundo tão escuro que acaba por não haver dia, só noite; é feito de cores escuras e ninguém sorri. Não existe o Sol, nem Deus para nos alegrar. Só existe tristeza, pessoas sem cor, sem vontade de viver, sempre melancólicas; pessoas que acabam por não ter vida. Não existem flores muito coloridas, nem balões, nem árvores, nem palhaços; as crianças nunca brincam. Cada vez que passo por uma delas na rua, olho para as suas expressões. Parecem normalíssimas, para as pessoas do meu mundo melancólico. As caras delas, enquanto deviam ser felizes, contentes, cheias de vida, são tão tristes…chegam a meter medo, algumas. É aterrorizante, viver neste Mundo.
Mas infelizmente, acho que me estou a habituar a viver nele. Estou a passar a viver a vida como as pessoas Solitárias, do Mundo da Solidão…não quero, mas parece que alguém ou alguma coisa me “puxa” para dentro dele; o que seria de mim nesse Mundo? Se calhar não havia de ser assim tão diferente. O melhor a fazer é começar a habituar-me…pois, um dia, todas as pessoas morrem. E quando morrem, acabam por ir para esse Mundo, terrível e assustador. Se calhar, e muito provavelmente, um dia voltam para o nosso Mundo Feliz. Mas até lá, serão obrigadas a viver naquele Inferno. É tal e qual os autocarros, que andam, todos os dias, de um lado para o outro, a ir, e a vir, a ir, e a vir…porque a vida e a morte são assim mesmo, um ir e vir sem razão.

A música e a beleza.

A música é uma onda de tranquilidade que me percorre a espinha de cima a baixo, mesmo estando tão em baixo que mal consiga pensar, através da música consigo abrir os olhos para o mundo e observar a beleza que ainda resta dele. Por muito pouca que esta seja, e por muito mal que eu esteja, consigo apreciá-la e perceber que ela é a melhor coisa que existe no mundo. A musica, e a beleza. Ambas perfeitas, ambas essenciais e capazes de mudar uma vida. A música preenche-nos; a beleza, completa-nos. São compatíveis e imprescindíveis, sendo impossível não as ver, sentir e tocar. Porque acima de tudo a música vê-se, e a beleza ouve-se.

Recordação inexistente.

"Rir. Dar as mãos. Beber café. Ouvir música. Dançar. Experimentar coisas novas. Partilhar emoções. Desabafar. Andar abraçado(a). Estudar. Pedir concelhos. Dar beijos de mil minutos. Conversar durante três horas. Escrever “gosto de ti”. Mandar mensagens amorosas. Gozar. Fazer nhecs. Andar de carro. Descobrir “coisas” novas. Sair. Cantar. Oferecer presentes. Passear a pé. Passar momentos íntimos. Confidenciar segredos. Olhar olhos nos olhos. Andar de elevador. Fazer “300” quilómetros para estar contigo. Ler. Discutir sobre coisas parvas. Roer as unhas. Sorrir. Pedir desculpas. Conviver de uma maneira especial. Morrer de saudades. Partilhar sentimentos. Pensar em ti a toda a hora. Ir ao cinema. Brincar. Ir ao rio. Estar na minha cama. Ser feliz ao teu lado." - Tudo isto para quê?
O suposto era culpar-me a mim própria desde o segundo a seguir. Mas só nos últimos dias é que percebi o erro que cometi. Toda a gente os comete, até tu já cometeste. Mas não estou aqui para te julgar. A culpa foi minha e o erro foi cometido devido à minha falta de maturidade e sinceridade. Depois de o ter cometido, não me senti arrependida. Mas com o passar do tempo as saudades começaram a apertar o meu coração, comecei a relembrar todos os momentos que valeram a pena ser vividos e que nunca deveriam ter acabado, de modo que passei a viver sempre a pensar se te iria encontrar ao virar da esquina ou se irias responder às minhas mensagens para ter a última tentativa de ser feliz contigo. Mas cheguei tarde. Não te vejo há quase três meses e sei que com o passar do tempo vou-me esquecer da tua voz e do toque das tuas mãos, dos teus carinhosos beijos. Sei que a tua cara vai ficar desfocada na minha memória e que os momentos que passei a tua lado irão desaparecer aos poucos e pooucos, passando a ser meras recordações de tempos perdidos e acabados.
Depois da última tentativa, percebo agora que já nao vale a pena. Faz parte.
Até sempre. (JPSA)

Viagem a um Mundo Novo

Vinha de saltos altos, estava a chover torrencialmente. Não podia ir mais a pé, não tarda estava a ir descalça. Só chorava. Quem olhasse para mim nem reparava, de certeza que se confundia com a chuva. Porquê? Não perguntes. Nem eu sabia…estava confusa até à ponta dos cabelos, só tinha pontos de interrogação na minha cabeça. Suposições aos milhares, muitas perguntas, mas respostas, nem sombra delas.
Trazia aquele top preto com o casaco fininho cinzento por cima, por isso, como deves imaginar, já não sentia os braços e o meu cabelo estava encharcado. Tinha o meu colar a pingar e os meus brincos balançavam com o vento. Virei a esquina do Pátio da Cantigas e resolvi esperar por um táxi; embora não tivesse dinheiro, achei não havia problema, quando chegasse ao meu destino pedia a alguém que conhecesse “uns trocos”. De cinco em cinco minutos, passava um táxi ocupado que resolvia contornar a esquina, mesmo ao pé de mim, para fazer com que ficasse toda molhada por causa da água da chuva, à beira do passeio…estava feita num oito. Pareceu-me que passaram por mim imensos táxis livres, mas fazia questão de não os ver. Só me apetecia ficar ali para sempre! Sozinha; a ouvir os pingos a escorrerem pelas janelas do prédio ao lado, a sentir o vento a trespassar os meus cabelos e com sabor da pastilha que tinha comido na hora anterior. Ao menos ninguém me incomodava, não tinha obrigações de nada nem e a tristeza era apenas superficial. Embora permanecesse dentro de mim, parecia que uma parte dela desaparecia aos poucos e poucos. Ia-me esvaziando, finalmente, do pessimismo que me preenchia...
Acho que fiquei à espera do táxi a noite toda. Quando via algum e tentava chamá-lo, não conseguia; não tinha voz. Esforcei-me para acenar quando eles passavam por mim, mas os meus braços não se mexiam; tudo era em vão. Alguma coisa estava a fazer com que eu ali ficasse. Quando começou a chover menos, aproveitei e sentei-me na entrada do pátio. Cruzei as pernas e deitei a cabeça nos joelhos. Fechei os olhos e viajei pelo mundo inteiro! Nada me impediu naquele momento. Pareceu-me que fui até à Índia: vi árabes e lenços de mil cores. Experimentei todos os pratos típicos de lá e conheci muita gente. Aprendi a falar a língua e apaixonei-me pela cultura daquele maravilhoso sítio. Voltei rápido para onde estava…sentia-me presa. Ali. Estava prestes a explodir.
Permaneci dez minutos de olhos fechados. Quando levantei ligeiramente a cabeça, vi um táxi preto e branco a parar à minha frente. Levantei-me, muito lentamente, e abri a porta. Sentei-me no banco de trás e baixei a cabeça. Continuava com lágrimas no rosto.

Limitei-me a dizer: Para o Mundo Desconhecido, se faz favor.

Silêncio.

Estou rodeada pela barreira do silêncio. Sinto-me a desaparecer a cada segundo. Estou sem nada; a minha roupa rasgou-se e a minha pele como não aguenta o frio, começou a estalar. Os cabelos caíram, as unhas apodreceram e os dentes partiram-se a cada mero segundo. Os meus ossos deslocaram-se e deixei de ter tacto. Os meus olhos embaciaram, acabei por perder a visão e o olfacto. As minhas pestanas foram caindo aos poucos. Parti todos os dedos das mãos e minha cara desfez-se até ficar completamente deformada. Estou nua. O pior de tudo? Deixei de ter sentimentos. Tudo graças a isto: que afinal de contas, se chama Vida. Sim, porque pessoas assim é que tornam esta vida perfeitamente obscura. Sem sorrisos, festas e brincadeiras. Mas não tenhas medo, um dia quando perceberes o que se passa à tua volta vais tentar retroceder no tempo. E desculpa, mas já vai ser tarde. Vais olhar à tua volta e perceberás que estás sozinho, já há demasiado tempo. E não vais poder fazer rigorosamente nada. Agora aprende a viver com o que tens porque eu também aprendi, daí estar nua, neste momento.
Mas hei-de cozer a minha roupa. Vou em direcção ao sol para aquecer a minha pele. Vou lavar-me para que o meu cabelo, as minhas unhas e os meus dentes voltem a crescer como deve ser. Os meus ossos irão voltar ao sítio inicial. Vou ter uns óculos para ver melhor e inspirarei o ar puro do campo para que o olfacto volte. Vou colar as minhas pestanas e andar muito para que os meus ossos melhorem.
Quanto à minha cara, vou esperar, porque o tempo tudo cura, e sei que ela vai voltar a ser redonda e frágil como era, com a sua cor morena e com as maçãs do rosto rosadinhas.
Depois de tudo isto, voltarei a ter o mais importante; vou sentir sadade, amor, e acima de tudo não irei ter medo da solidão. Porque o silêncio designa um ambiente onde reina um vazio relativo de ruídos provocados pela consciência…
Tudo isto tem um sentido profundo, mas, assim que tento explicá-lo, ele desaparece por entre o silêncio.
(durante meses senti-me farta, senti-me enjoada, desesperada para que o barulho à minha volta desaparecesse, que o barulho da vida evaporasse no ar. mas isso nunca aconteceu.)