quarta-feira, 26 de maio de 2010

Carta de amor, 1964

Meu eterno amor,
São raios de luz verde e azul ao mesmo tempo. Transmitem uma calma indescritível, juntamente com as melhores pestanas do mundo: longas e firmes. Em conjunto com o teu longo cabelo loiro fazem a combinação perfeita. Fica arrepiada ao observar o teu profundo e sincero olhar. Os olhos, relembro-os bem, desde o último dia em que estes se despediram de mim, deslumbrando-me durante toda a tarde, num dia de inverno rigoroso.
Já quase me esqueci do teu verdadeiro tom de pele (para não falar das mãos, que eram grandes e, apesar disso, graciosas). Passaram onze meses e treze dias, salvo erro; quase um ano sem "namorar" esses olhos, essas mãos, esse sorriso e esse cabelo que tanto amo.
Antes de partires, percorria quilómetros, ultrapassava ventos e enfrentava tempestades só para te ver sorrir. Agora, sou obrigada a ficar presa e acorrentada às saudades que me sufocam diariamente.
Já lá vai um ano sem existirem os passeios de barco na nossa lagoa, os momentos românticos, as serenatas em plena madrugada, os ramos de flores que me oferecias todos os dias...relembro bem todos os segundos passados a teu lado. As longas conversas pela noite fora e os domingos em frente à lareira desapareceram. Os momentos de carinho também ficaram para trás.
E tu, meu amor? Onde te encontras? O tempo passa cada vez mais devagar e torna-se, aos poucos e poucos, cada vez mais dificil de se suportar. Cada vez mais me sinto frágil e sozinha, devido à tua ausência. Preciso de voltar a ouvir a tua tornurenta voz e de sentir a tua pele macia.
Os meus olhos já nao aguentam, tomam banho todos os dias, por ti...Anseio a tua chegada desde o minuto a seguir à tua partida, e espero com esperança e saudade que voltes assim que puderes.
Enfim...basta apenas dizer que ambos teremos de aguentar este profundo sofrimento, e que, apesar de não ser nada sem ti, faz-me viver a vontade de voltar a ver-te.
E lembra-te: as saudades não existem por estares longe, mas sim porque já estiveste demasiado perto.
Volta para mim. Amo-te.
Lisboa, 17 de Agosto de 1964

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