domingo, 30 de janeiro de 2011

A Quinta.


A poeira circulava feita em rolos, que aumentavam à medida que giravam, devido ao vento.
A areia cercava o terreno dele, como se fosse uma vedação, para tornar a sua propriedade ainda mais privada.
A quinta, essa sim, era coberta de musgo e plantas trepadeiras que rodeavam as paredes, as janelas eram tapadas por portadas velhas com bastante falhas, deixando entrar o calor abafado.
O tempo que preenchia a paisagem era quase sempre idêntico: quente demais para se viver.
Lá na quinta vivia ele com a sua gata castanha, demasiado velha para sair do cesto encostado à lareira, apagada á anos.
Durante os dias ele, deixando a gata nas suas sete quintas, ultrapassava a vedação de areia e corria ao sabor do vento, querendo manter o seu físico em forma. O exercício ocupava quase todo o seu dia, voltando à quinta apenas para almoçar e para se refrescar, não aguentando o calor.
O seu mundo criou-se apenas entre a quinta, a vedação de areia e a área onde ele corria. Nem a gata o irá salvar.
Ele tem a plena consciência de que, mais cedo ou mais tarde, na sua solitária quinta, com a sua gata, encostados à lareira apagada, rodeados do calor ofegante, irá morrer.

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